
Comissão Especial de Inquérito apurou esquema que teria desviado mais de R$ 1,9 milhão dos cofres municipais por meio de contas adulteradas e empresa ligada ao ex-secretário de Finanças
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A Câmara Municipal de Turvânia concluiu, após cinco meses de investigações, o relatório da Comissão Especial de Inquérito (CEI) nº 001/2025, instaurada para apurar um esquema de desvio de verbas públicas que abalou o município. O documento final confirma que mais de R$ 1,9 milhão foram desviados das contas da Prefeitura entre 2017 e 2025, com indícios de falsificação de extratos bancários e manipulação contábil.
O principal investigado é o ex-secretário de Finanças Reginaldo Marques da Silva, apontado como o articulador do esquema. Ele teria utilizado a empresa RMS Consultoria LTDA, da qual é sócio-administrador, para movimentar valores desviados diretamente das contas municipais, principalmente por meio do C6 Bank. Segundo o relatório, os repasses ilegais somaram R$ 1.918.324,08, sendo R$ 1,76 milhão via transferências eletrônicas (TED) e R$ 158 mil em depósitos por boletos.
Durante as oitivas, testemunhas descreveram o esquema como “muito bem arquitetado”. O auditor fiscal Hugo Mendes da Cunha Rodrigues afirmou que os extratos apresentados à contabilidade eram falsos e elaborados de forma sofisticada, a ponto de enganar qualquer servidor. Ele também revelou a existência da Conta nº 52-6, desconhecida pela contabilidade e de titularidade do Município, usada para transferências suspeitas para a empresa ligada ao ex-secretário.
O atual prefeito Jadir Dias Policarpio confirmou que o caso veio à tona após comparar extratos bancários obtidos diretamente no banco com os que eram apresentados pelo ex-secretário. O gestor afirmou ainda que Reginaldo confessou os desvios e iniciou a devolução de parte do dinheiro, no valor de R$ 417 mil. Segundo o prefeito, as irregularidades vinham ocorrendo desde 2020.
Além de Reginaldo, passaram a ser investigados Fausto Mariano Gonçalves (ex-prefeito), Mileny Marques Mota da Silva (esposa do ex-secretário) e Diego Manoel do Carmo (auxiliar contábil). Dos quatro, apenas Diego apresentou defesa prévia. Mileny, Reginaldo e Fausto não compareceram às oitivas nem apresentaram justificativas.
O contador Eide Barbosa dos Santos reforçou que Reginaldo é “réu confesso” por falsificação dos extratos e afirmou que as adulterações eram praticamente imperceptíveis. Já o agente financeiro Maurício José Soares de Sousa destacou que o ex-secretário tinha total controle sobre os pagamentos e possuía padrão de vida incompatível com o cargo.
O parecer conclusivo da CEI reconhece a prática de atos de improbidade administrativa, falsificação de documentos e desvio de recursos públicos. O relatório final será encaminhado ao Ministério Público de Goiás e ao Tribunal de Contas dos Municípios, para adoção das medidas judiciais e penais cabíveis.
Com a revelação do esquema, a Câmara de Turvânia prometeu reforçar os mecanismos de transparência e controle interno. A investigação também serviu de alerta para outras gestões municipais quanto ao uso indevido de contas bancárias e à necessidade de maior rigor na conferência dos extratos oficiais.




